#1 Viu a Fernanda Torres? Totalmente poliglota!
O tipo de vídeo que eu queria ter visto quando aprendia as bases do inglês
Não, esse não é um conteúdo para “analisar” o inglês da Fernanda Torres. Confesso, aliás, que morro de preguiça de vídeos que “analisam” o inglês de não-nativos, por melhor que seja a intenção. Detesto a ideia de sermos observados como animaizinhos que performam algo.
Desde a repercussão de “Ainda Estou Aqui” há muitos vídeos circulando com Fernanda Torres falando vários idiomas além do português. Caso não tenham visto, deixo aqui o link dessa entrevista maravilhosa para o programa Jimmy Kimmel Live.
Eu queria tanto que alguém tivesse me mostrado um vídeo assim quando eu estudava inglês e sofria achando que falar uma língua estrangeira “não era para mim”.
Achava quer era “coisa minha” até entender que esse sentimento de fracasso ao tentar falar uma língua não surge por acaso.
A professora e o sotaque australiano
Em 2007 eu fazia aulas em um curso de inglês em Porto Alegre. No último semestre minha professora era casada com um australiano. Eu nem lembro o nome dela, só lembro que era casada com um estrangeiro. Como eu iria esquecer, se ela lembrava desse fato de forma recorrente?
Nada contra nem a favor do cônjuge dela. Mas essa minha teacher fazia todo mundo imitar a pronúncia do fulano marido dela. Imitar mesmo. Não podia ter um sonzinho “fora do lugar” que ela corrigia.
MInha gente: o trauma que eu peguei daquelas aulas. Simplesmente eu não conseguia me expressar porque eu não conseguia falar daquele jeitinho que a teacher queria.
Era correção em cima de correção Eu sentia que nada do que eu falasse estava bom.
O final dessa historinha é nada surpreendente: perdi a pouca motivação que tinha para tentar falar inglês.
Quando saí de Porto Alegre, em 2008, rumo a São Paulo, não pude bancar aulas de inglês. Fiquei quase cinco anos nesse esquema autodidata. Eu já tinha um conhecimento sólido da língua, mas na hora de falar eu tremia toda. Me dava um siricutico.
Certeza que no meu subconsciente estava aquela voz “hmmm ainda tá ruim, imita um pouco mais como fulano fala”.
Falando como “nativa”
A Irlanda, para onde fui em 2014, foi a libertação da minha sagrada boca. Descobri que eu saía falando até com os postes se deixasse. Não tinha nada de errado comigo. Não era mágico? Ninguém me julgava, ninguém me pedia para imitar ninguém.
Inclusive comecei a ouvir que eu falava inglês como uma “nativa”. E aí caí no segundo erro.
Antes eu achava que não sabia falar inglês, depois eu achava que falava inglês bem porque “falava como uma nativa”.
Ora um pensava que eu era dos Estados Unidos, ora da Inglaterra, ora da Irlanda. Na minha cabeça isso era o “auge”, o sucesso, praticamente uma certificação de Cambridge.
Infelizmente reproduzi isso nos meus primeiros anos ensinando como teacher, ainda que não de forma agressiva como minha antiga profe, aquela casada com o australiano.
Acreditava que uma pronúncia “perfeita” (perfeita para quem?) era a prova de ser uma falante bem-sucedida.
Questão de honra e de raízes
Aí veio a dona Itália mudar meus pensamentos em 2019. Lá fui eu morar no Bel Paese com um italiano de nível intermediário (100% autodidata). Não era um italiano exatamente capenga, porém longe de qualquer perfeição..
Eu abria a boca e saía um italiano com sotaque inglês (sei lá por qual razão).
Diferente da Irlanda, na Itália eu não falava como uma “nativa” do país.
Para minha surpresa, italiano algum ligava para isso. Elogiavam meu italiano, minha gramática, minha evolução em pouco tempo.
Mais do que isso: descobri que na Itália ninguém realmente espera que se fale uma língua estrangeira com outro sotaque além do teu. É uma questão de honra, de raízes. Por que um italiano falaria inglês como alguém que nasceu nos Estados Unidos?
Na Irlanda eu aprendi a falar inglês. Na Itália aprendi a ser poliglota. Ter orgulho das minhas conquistas linguísticas, da minha história, até dos meus erros, sim, porque eles são um atestado de uma jornada em progresso. Tem coisa mais linda que uma vida em movimento, de braços abertos para o novo e para o aprendizado?
Brasilidade no red carpet
Pulamos finalmente para 2025, Fernanda Torres brilhando em todo red carpet onde pisa.
Alguém seria doido de dizer que a Nanda (a essa altura nossa íntima) não fala bem a língua inglesa porque abre a boca e sabemos que ali tem uma brasileira, brasileira da gema?
Olha a desenvoltura dela, a naturalidade, a leveza, o carisma.
Autoconfiança.
Fernanda Torres é um acontecimento, como disse um dia Marjorie Estiano.
Nós também podemos ser um acontecimento, mesmo sem um Globo de Ouro.
Para que falar como nativa se posso falar como a Fernanda Torres?
Aprendi na Itália o que essa newsletter tem o objetivo de enfatizar: não precisa imitar nativo, falar como nativo, esconder a brasilidade.
O mundo quer a nossa mensagem.
De novo, autoconfiança.
Continuem estudando pronúncia, vocabulário, gramática, mas coloquem a autoconfiança como prioridade nesse processo.
Mesmo que o inglês por aí não seja ainda tão bom.
Sabe quem brilhou no Globo de Ouro 25 anos atrás com um inglês limitado, porém com um mundo a expressar?.
Fernanda Montenegro, que então disse ao receber o prêmio e representar a equipe de Central do Brasil:
“Meu inglês não é bom, mas minha alma é melhor”
Espero que essa primeira newsletter inspire um 2025 com muito progresso no inglês, onde possamos nos comunicar com espaço para nossa autenticidade.
See you soon,
Patricia
Imagem: Reprodução (Youtube)
Muito obrigada por servir de inspiração para que eu continue a tentar o inglês! (:
Que postagem inspiradora! Me deu mais empenho para aprender um novo idioma 🙌🏻